“Desde piá ouvia falar sobre o navio encalhado, no começo dos anos 60. Da praia só se viam dois cascos do naufrágio, no meio da ilha dos lobos, que foram desaparecendo aos poucos, primeiro um depois o outro”
Por Roni Dalpiaz
A traiçoeira costa gaúcha
O Jornal do Brasil noticiou que, o cargueiro Avahy era o 6º barco a encalhar na costa do Rio Grande do Sul desde 1953. A reportagem lembrava ainda que, além de perigosa, a costa gaúcha possuía um pequeno e precário contingente da Marinha. Assim, os navegadores que percorriam o nosso litoral dependiam muito da Marinha da região sudeste do país.]
“A costa do Rio Grande do Sul, em decorrência das frequentes tempestades, dos bancos de areia e do nível médio do mar, inferior a 20 metros de profundidade, próximo à praia, e portanto, levaram a batizá-la como o ‘Cemitério dos Navegantes, onde se encontram muitos navios que sofreram naufrágio”.
O naufrágio do Avahy
Era dia 15 de março de 1960, por volta das 20h, em uma noite sem luar, mar calmo e tempo bom para navegação. A visibilidade, no entanto, era muito baixa pela forte neblina que ocorria no momento. O cargueiro Avahy bateu em algumas pedras e perdeu o controle, navegou sem rumo até encontrar em seu caminho a Ilha dos Lobos. De acordo com o comandante, Ecilo Galvão Barcelos, os tripulantes soltaram foguetes de sinalização de emergência para que poder haver o socorro. Moradores e pescadores de Torres e Passo de Torres foram em socorro dos então 13 tripulantes.
Não houve feridos, porém os documentos do navio misteriosamente sumiram. O capitão do navio culpou seu imediato pela perda destes documentos, uma vez que este os colocou em cima de uma baleeira e, no momento do choque, acabaram por cair no mar.
Todavia, a mercadoria estava segura em seus porões do navio. A empresa abandonou o navio, e por isso, aos poucos os visitantes da Ilha dos Lobos (era permitida a navegação e desembarque na ilha naquela época) foram levando os produtos e, inclusive, pedaços da embarcação para serem guardados como souvenirs.
“Presentes” para a população
Conversando com amigos, jovens há mais tempo que eu, fui lembrado do episódio do naufrágio do cargueiro Avahy nos recifes da ilha dos lobos. Recordavam-nos das latas de pêssego em calda, com ou sem caroço (podiam escolher) que aportavam na costa da praia grande. Bem como se lembraram dos fardos de lãs que para serem aproveitados ficavam dias a secar ao sol. Há, tinha também as latas de azeite que, dizem, sustentaram por anos as fritadas de peixe de muitos torrenses e vizinhos do Passo de Torres.
Eu lembro apenas dos destroços do cargueiro que da praia se via. Posteriormente, foi desaparecendo até se despedaçar por completo.
Por cerca de 25 anos, o navio Avahy era visível em cima das pedras da Ilha dos Lobos. Ele estava partido em 2. Por fim, acabou desaparecendo por completo na década de 90.
Atualmente, o navio serve de abrigo para criaturas marinhas no fundo do mar de Torres-RS.
Referências:
VENTURELLA, Roberto. A história do Farol de Torres. Porto Alegre: AGE, 2006.
Jornal do Brasil, 1960